Bem comportado... 204r2m
Por conta de um fim de semana em que consegui me desvencilhar de algumas atividades, aproveitei para uma pequena viagem para região próxima, coisa de umas duas horas a uma velocidade moderada e segura. Mas qual não foi o meu espanto ao perceber que somente cheguei ao destino quatro horas e meia após a partida... Dureza! Bem, se vocês, queridos leitores, queridas leitoras, são daqueles que vão se aventurar a pegar a estrada, recomendo paciência, muita paciência, pois não faltará aquele engarrafamento – que duplicará seu tempo de viagem – causado na maioria das vezes pelos apressados-donos-do-mundo, que insistem em andar pelo acostamento até a primeira ponte, quando ao voltar à rodovia, obrigam os demais a reduzir velocidade. Devem ser as mesmas pessoas que, ao abrir as portas de um elevador, não esperam que este se esvazie, antes de entrarem, causando assim outro engarrafamento. Teremos chegado ao fim da civilidade? O que você acha de tal comportamento?
Bem, pelo teor do parágrafo acima, você, leitor assíduo e esperto, já percebeu que continuarei a tratar das Finanças Comportamentais, prosseguindo a lista das armadilhas psicológicas que podem prejudicar decisões financeiras.
(1) EFEITO MÍDIA: Fatos ostensivamente divulgados ampliam o impacto das informações recentes em nossa habilidade de julgamento (comentado na semana ada!), fazendo com que superestimemos a possibilidade de que ocorram novamente, mesmo quando raros. Isto explica, por exemplo, porque muitos optam por viajar de carro após um acidente aéreo de grandes proporções, ainda que, estatisticamente, andar de carro traga mais chances de morte do que andar de avião. Risco: nos investimentos, esta armadilha pode fazer com que, após uma queda abrupta nas cotações, mesmo sem nenhum fundamento econômico/financeiro a sustentar o fato, nos desfaçamos precipitadamente de ações adquiridas anteriormente.
(2) PONTOS DE REFERÊNCIA: Não pouco freqüente é a tendência em fixarmos idéias ou números e usá-los como pontos de referência para estimativas futuras. Isto explica, por exemplo, o apego em mantermos hábitos ou atitudes que, em outras condições ou momentos ados foram até eficientes, mas no cenário atual, não apresentam evidências que justifiquem nossa preferência. Risco: nos investimentos, esta armadilha pode nos deixar presos a fundos ou aplicações com baixa rentabilidade para o nível de risco que oferecem ou ainda, no caso das ações, fazer-nos manter um determinado título perdedor e sem chances reais de recuperação, apenas por acreditarmos que sua cotação voltará ao preço de referência que temos em mente.
(3) QUANTIDADE DE INFORMAÇÕES: É consenso que decisões tomadas a partir de um conjunto de informações tendem a produzir melhores resultados. Entretanto, o atalho mental que muitas vezes atrapalha é achar que quanto maior a quantidade de informações, melhor será a decisão. Na prática, o que estudos acadêmicos comprovam, é que apenas poucas variáveis são relevantes. No caso do nosso Ibovespa, por exemplo, três principais fatores explicam boa parte das maiores oscilações recentes: situação econômica mundial, inflação brasileira e preços internacionais das commodities. Risco: nos investimentos, fora o tempo e o dinheiro gastos para obtê-las, congestionarmos nosso processo decisório com dados irrelevantes.
Um grande-abraço-comportado (também sou vítima das armadilhas que comento!) e até a próxima semana!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, ou a uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.